terça-feira, 3 de novembro de 2009

As voltas de um herói


Toda semana, logo pela manhã, o garoto Carlos já estava acordado, sentado na frente da televisão para ver seu programa favorito. Ele ficava grudado na telinha, com os olhos sempre atentos acompanhando cada movimento de seu Super-herói. Carlos esperava muito por esse momento. As batalhas que o seu Super-herói — pois assim que ele o considerava — travava tiravam o fôlego de qualquer um! Inimigos, como o agressivo Leão, o experiente Professor e o conterrâneo Pikê, eram um prato cheio para o garoto que sonhava em seguir seus passos. Depois de cada luta, Carlos saía pelo quintal imitando movimentos e golpes.

As batalhas tinham o mesmo ritual. O Super-herói sempre estava concentrado, enigmático. Colocava seu Supertraje e o capacete, e se transformava em um raio. Ele e a Super equipe formavam uma dupla imbatível. Sua velocidade e destreza eram tamanhas que até seus inimigos davam o braço a torcer e o elogiavam. Não havia ninguém mais poderoso do que ele. Fazia coisas que nenhum mero mortal faria em sã consciência. O que mais impressionava era que, assim como Carlos, ele também era um ser humano. E, como todo o ser humano, também tinha suas fraquezas. Mas as atitudes e o modo com que desafiava as dificuldades faziam Carlos esquecer que um dia seu Super-herói poderia falhar.

E foi justamente um erro — não dele — que provocou a derrota final do Super-herói. Era mais uma manhã de domingo e Carlos acompanhava uma batalha eletrizante quando a Supermáquina perdeu o controle e matou o eterno herói, fazendo com que toda uma nação ficasse órfã. Carlos ficou imóvel, assim como o Super-herói. Prendeu a respiração e não sabia se chorava, gritava... O silêncio foi a resposta. Carlos ainda percebeu um leve movimento de cabeça do herói; aquele poderia ser a prova de que tudo estava bem, que ele se levantaria e tudo voltaria ao normal. Mas aquele foi o fim, o ponto final de uma história que não deveria acabar. Depois disso, Carlos tentou buscar outro super-herói. Até conseguiu achar, mas nenhum vai chegar aos pés e mãos do seu Super-herói, Ayrton Senna.

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