terça-feira, 20 de outubro de 2009

Meu vô estava certo, meu cachorro é que não sabe de nada

Longe da nostalgia que faz brilhar os olhos dos nossos avôs, existem pessoas realistas, entre as quais insisto em me incluir. Gente que, sem ignorar o passado, tenta enxergar um futuro melhor para uma nação que se acostumou à mediocridade de migalhas jogadas ao ar, digeridas enquanto um belo número circense é apresentado. O crime não se ateve aos bens, pois se foram também os direitos, inclusive os direitos de querer direitos, e até mesmo o de se indignar com este outro que foi perdido.

É proibido discordar. Manifestar-se, então, nestes tempos pode ser considerado um crime, ainda que visivelmente o delito não seja perceptível. Nesta hora, grito: ora , mas que liberdade é essa? Desamarram a corrente do poste, mas deram um nó ainda mais forte em uma outra corda que, apesar de grande, se encerra na mão daqueles que continuam se rotulando como nossos donos. Ponho-me a pensar no que vovô dizia: “a ditadura não era tão ruim assim; eles eram fortes, tinham poder, mais eram burros, hoje parecem fracos, fingem não ter o comando, mas são espertos como raposas”. Sem dúvida, o pensamento do velhinho vale uma reflexão.

Após refletir, refletir e refletir, sinto-me como meu cachorro, que fica feliz e saltitante todas as vezes que é libertado de sua limitada corrente, mesmo sabendo que momentos depois voltará para sua limitação. Corrompido pela tal liberdade que herdei de outras gerações, sou liberto de frente a uma máquina que espera que algo com conteúdo seja produzido por mim. A corrente está solta, mas é preciso perceber isso, e acho que percebi.
Obrigado a falar o que querem, falar e escrever o que querem que eu escreva, ainda que nas horas vagas, inicio a dissertação sobre o que penso. O que importa? Para mim importa! Ah, se meu cachorro soubesse que soltei a corrente, talvez ele corresse tanto que eu nunca mais o encontraria. Mas ele sempre volta, talvez por que goste realmente do dono. Ou talvez por que não tenha aprendido a viver sem ele.

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